sexta-feira, 1 de abril de 2011

Manuel Afonso Costa

Acerca de mim

A minha fotografia
Prefiro usar este espaço para esclarecer a natureza dos elementos contidos nos pontos: Filmes Favoritos, Música Favorita, Livros Favoritos. Todas as escolhas obedeceram apenas a um critério, o de salientar as obras que num determinado momento da minha vida desempenharam um papel muito relevante. Nalguns casos constituiram verdadeiras paixões como foi o caso de Bergman ou Tarkovsky, de Cortazar ou Lévinas, ou ainda de obras musicais como os Quartetos de Cordas de Beethoven,o Salmo 150 de Britten,Tout un monde lointain de Dutilleux,os Concertos de Beethoven por Alfred Brendel,ou o Canto da Terra de Mahler. E estes são apenas exemplos escolhidos entre outros (mais alguns, não muitos) possíveis. O que eu poderia dizer sobre mim fica amplamente insinuado a partir dos meus interesses e das minhas afinidades electivas. Não é por timidez que não digo mais. É por que de facto o que aqui deixo expresso já me parece suficiente. É tudo!

Outro poema: Cantos metabólicos

Canto XIV
(…) essa morte que escorre tão suavemente
das tuas mãos surpreendidas
No teu colo ainda se respira ainda se move
o sussurro primitivo do mar
Ainda se move uma mentira

É a tua morte anunciada que inaugura a noite
de todos os algozes
e é no teu colo abstracto
que eu me entrego a todos os destinos
resignado como um cão vadio

Eu seria capaz de lamber todas as tuas feridas
Dar-te a ilusão de uma cura
De um eterno conforto eu seria

Eu seria capaz de beber a tua morte esse veneno
para te oferecer a ilusão da eternidade
uma luz límpida para te banhares

Mulher que me devolves a consciência agoniada do corpo
Matéria disponível para o cepo o açougue
e para a poesia decadente de um baldio

Quinta-feira, 15 de Maio de 2008

Um poema

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Prémio Nobel da Literatura 2010

Mario Vargas LlosaO Prémio Nobel da Literatura 2010 foi atribuído ao escritor peruano Mario Vargas Llosa, pela cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos das suas obras.

Mario Vargas Llosa, nascido a 28 de Março de 1936, é licenciado em Letras e Direito. Recebeu um prémio de 10 milhões de coroas suecas, cerca de 1 milhão de euros.

Obras de Mario Vargas Llosa publicadas em Portugal

  • A guerra do fim do mundo;
  • História de Mayta;
  • A cidade e os cães;
  • Quem matou Palomino Molero?;
  • Elogio da madrasta;
  • O falador;
  • A tia Júlia e o escrevedor;
  • Pantaleão e as visitadoras;
  • Conversa na catedral;
  • Como peixe na água: memórias;
  • Lituma nos Andes;
  • A guerra do fim do mundo;
  • Cadernos de Dom Rigoberto;
  • Cartas a um jovem romancista;
  • A festa do chibo;
  • A guerra do fim do mundo;
  • A casa verde;
  • O paraíso na outra esquina;
  • A tia Júlia e o escrevedor;
  • Travessuras da menina má;
  • Israel Palestina: paz ou Guerra Santa;
  • Diário do Iraque.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Macau, China 04/10/2010 15:19 (LUSA)
Temas: Artes, Cultura e Entretenimento, Pessoas, Sociedade, Morte

Macau, China, 04 out (Lusa) – A morte do escritor Henrique de Senna Fernandes constitui uma “grande perda para a vida cultural” de Macau, defendeu hoje o executivo da região ao considerar que aquele foi um “emérito embaixador cultural” da cidade.

“Henrique de Senna Fernandes é um exemplo de referência e de dedicação abnegada ao estudo e promoção da história e cultura de Macau”, defendeu o chefe do executivo macaense, Fernando Chui Sai On, numa mensagem de condolências enviada à família do escritor, que faleceu hoje vítima de doença prolongada.

Chui Sai On enalteceu ainda a “dimensão intelectual, artística, humana e cívica” de Senna Fernandes, sublinhando que aquela “lhe valeu o respeito e admiração de toda a população”.

O Instituto Cultural, que editou e co-editou várias obras de Senna Fernandes em português, inglês e chinês, também sublinhou, numa mensagem enviada à família do escritor, que a sua morte constitui uma “grande perda para a vida cultural de Macau”.

“Através do seu incessante esforço de criação literária, Senna Fernandes expressou o seu profundo e sincero sentimento para com Macau, o que o tornou num emérito embaixador cultural de Macau”, defendeu o organismo.

“Acreditamos, no entanto, que o seu amor por Macau e as figuras literárias que criou perdurarão para sempre na memória do povo” da região, acrescentou.

O Instituto Cultural considera que as obras de Senna Fernandes “constituem uma importante herança cultural de Macau, as personagens que criou consubstanciam as características da fusão cultural sino-ocidental e a sua descrição da velha Macau integra a memória coletiva da cidade”.

Senna Fernandes nasceu em Macau a 15 de outubro de 1923 e é autor de vários livros de contos que envolvem a Macau antiga, como “A Trança Feiticeira”, que o Instituto Cultural classifica como um “clássico da literatura” da região, adaptado ao cinema por produtores chineses e com a participação de atores portugueses como Filomena Gonçalves e Ricardo Carriço.

PNE.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

Lusa/fim

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Zhimo Inspirou-me...

Ao longo dos 5.000 anos históricos da China, houve dois apogeus de intercâmbio cultural: a transculturação ocidental, cujo ponto de partida foi o fim da dinastia Ming e o início da Qing, em termos de tempo, e foi Macau, em termos regionais...

Foi assim que o Prof.Dr. Lei Heong Iok citou muito precisamente o Académico Ji Xianli, "Grande Mestre da Sinologia", no prefácio dedicado aos Aspectos Teórico-Práticos de Tradução - Português/Chinês ( 2002).
Seria justíssimo promover à lusofonia uma literatura chinesa moderna através da investigação e tradução das obras de Xu Zhimo, tendo novamente Macau como ponto de partida.

Nesta circunstância, senti plenamente o significado da aprendizagem das obras de Xu, e ainda mais, por ter sido em português.
Zhimo procurou sempre o "amor", a "liberdade"e a "beleza", e segundo Hu Shih, conhecido no Ocidente pelo seu cargo de embaixador chinês nos Estados Unidos, o poeta fez parte de uma geração a que pertenceram Hu e Ji, que "traduziu"do estrangeiro um conhecimento que directa ou indirectamente influenciou o pensamento chinês moderno e contemporâneo, apesar de terem estas ilustres personalidades chinesas, distintos sentidos e fins de vida.
Impressionado pelo Romantismo inglês, Xu traduziu e apresentou não só à China a literatura ocidental, mas também a si próprio:
- Foi Cambridge que me fez abrir os olhos, foi Cambridge que alimentou a minha curiosidade e deu o embrião à minha auto-consciência.
No seu poema "Cambridge, Adeus" (de zaijian - voltar a ver-nos), datado de 8 de Outubro de 1922, e anterior à sua "Segunda Despedida a Cambridge", vê-se já claramente a sua paixão e "dependência" sentimental da cidade.

A sua emoção poética e sentimental deixou-nos também alguns lindíssimos topónimos ocidentais traduzidos para o chinês, como é o caso de Firenze, traduzido como Frio Jade, no célebre poema Una Notte a Firenza, cujo conteúdo era muitíssimo aberto para a China da altura:

Vais partir amanhã? Então eu... eu..
....

És o meu mestre, amo o meu benfeitor,
Ensinaste-me o que era a vida, o que era o amor.
Despertaste-me do meu coma
, levaste-me a inocência.
Sem ti, como é que eu sei se é alto o céu, se é verde a erva?
Toca o meu coração, vê como bate rápido;
Toca o meu rosto, queimado pela escuridão desta noite
Não se vê amor, não consigo respirar,
Não me beijes; não suporto este fogo violento,
A minha alma sobre tijolos ardentes,
Ferro forjado sob o martelo, bate, bate,
Faíscas saltando flutuam perdidamente, espalhando-se, caindo....
.....................

Tentei traduzir literalmente um excerto do poema composto por Xu em 1925, numa notte estrangeira, numa colina saudosa e solitária, ao lado de uma amante imaginária.


Com a implantação da República na China, o movimento de 4 de Maio, do qual fez parte a elite intelectual chinesa e o próprio Xu Zhimo, faz nascer o desejo de liberdade, de amor, de paixão e de tudo o que a China não tinha vivido durante tantos séculos.

Xu Zhimo é um dos maiores poetas da "nova poesia", faz parte da primeira geração após a queda do Grande Império Celestial, e ainda que influenciado pela cultura ocidental, a sua formação e o domínio da língua clássica chinesa, não foram afectados.

O que Xu Zhimo ( Hsu Chih-Mo) e as suas obras me inspiram, é que sendo eu um chinês, devo conhecer toda a história e a cultura de Xu, e que sendo um chinês natural de Macau, tenho o dever de consciência de apresentar o que sei da cultura chinesa aos lusófonos.

Este é o meu trabalho de exame, mas mais, é a minha conclusão do primeiro semestre de aprendizagem da Literatura Comparada.

Cheong Kin Man , Miguel, 4 ano - Turma A ( SA 520206)

Segunda Despedida a Cambridge - Xu Zhimo

Parto sem ninguém dar por isso,
Tal como cheguei,
Acenando com o braço
Para me despedir do Ocidente.

Aquele clarão dourado ao pé da margem,
É a noiva ao pôr-do-sol,
A sombra reflectida no rio.
Agita-se em mim.

Preso à lama macia,
Nenúfar luzidio embalado pela água do rio.
No meio das suaves ondas do Rio de Cambridge
Queria ser essa flor aquática.

Ali, debaixo do ulmo,
Não é uma fonte, não,
Mas arco-íris celestial,
Reflexo descontínuo no meio das algas,
Do sonho igual a ele.

Mas não posso cantar,
O silêncio é a flauta da despedida;
Por mim calam-se os insectos,
O silêncio é esta noite de Cambridge.

Parto devagar,
Como cheguei,
Acenando com a manga da cabaia
Sem poder levar nada.

Xu Zhimo ( tradução de José e Maria - alunos da primeira licenciatura- com a ajuda de Ana Dias)

Xu Zhimo - Entre a Tradição e o Ocidente


Foi preciso esperar que a Literatura Chinesa reconhecesse o seu talento como romântico dos novos tempos...
Xu Zhimo ( 1897-1931) nasceu numa família abastada; o seu pai, um industrial bem sucedido, foi presidente da Câmara do Comércio de Haining - Zherjiang. Zhimo teve uma educação chinesa clássica.
Em 1916 entra para a Universidade de Beryan - Tianjin, e no ano seguinte segue os cursos do célebre professor Liang Qichao. Em 1918 parte para os E.U.A. para estudar Finanças, mas influenciado pelo filósofo inglês Russel, decide mudar-se para o King's College de Cambridge.

"Foi Cambridge que me abriu os olhos, que me deu a sede do conhecimento e onde tomei conhecimento de mim mesmo" (Zhimo)

Regressa à China em 1929 onde foi professor nas Universidades de Pequim, Suzhou e Nankin.
Em 1923 funda a revista da sociedade literária "Lua Nova", onde participam letrados famosos, entre eles, Zhou Zuoren, Liang Shiqiu e Wen Yduo.

A sua vida amorosa foi atribulada, intensa e inspiradora da sua poesia.

Morre em 1931, com 34 anos, num acidente de aviação.

A sua obra, fazendo embora parte do património histórico e literário chinês, pertence a todos nós.